segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ratinhos criados de raiz a partir de células adultas reprogramadas


A reprogramação de células adultas em células capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo deu mais um passo importante
Pela primeira vez, uma equipa de cientistas conseguiu fazer nascer ratinhos exclusivamente gerados a partir de células de ratinho adultas que tinham sido previamente reprogramadas por terapia genética. Shaorong Gao e colegas, do Instituto Nacional de Ciências Biológicas de Pequim, publicaram os seus resultados ontem na revista Cell Stem Cell.
As células a partir das quais os animais foram gerados são "células pluripotentes induzidas", ou células IPS, e têm suscitado o entusiasmo nos últimos anos porque poderiam substituir um outro tipo de células com imenso potencial terapêutico: as células estaminais embrionárias (CEE). Como já muito se disse e escreveu, as CEE, criadas por clonagem a partir das próprias células de um doente, permitiriam a seguir obter tecidos e órgãos totalmente compatíveis com esse doente.
O problema é que a produção de CEE recorre a uma técnica de clonagem como a da ovelha Dolly, implicando portanto a destruição de embriões humanos (que seriam gerados apenas para colher neles, passados uns dias, as ditas células), algo que, por razões éticas, religiosas, etc., incomoda muita gente. O recurso a células IPS tem a grande vantagem de dispensar embriões, substituindo a etapa da clonagem por uma etapa de introdução de genes na célula adulta, genes que a obrigam a regressar à infância, por assim dizer.
A história das células IPS começou em 2006, no Japão, quando Shinya Yamanaka e colegas, da Universidade de Quioto, mostraram que, ao inserir quatro genes específicos em células humanas, a bordo de um vírus, conseguiam fazê-las regredir até um estádio que, ao que tudo indicava, era semelhante ao estádio embrionário.
A seguir, a mesma equipa conseguiu reprogramar as células IPS sem recorrer a vírus como veículo de introdução dos genes (o que poderia ter efeitos indesejáveis) e sem utilizar um dos genes iniciais, conhecido por ser potencialmente cancerígeno.
As células IPS de ratinho, por seu lado, já deram provas de serem muito parecidas com células embrionárias: em particular, quando injectadas em embriões, deram origem a diferentes tipos de tecidos nos animais resultantes.
Mas faltava uma derradeira prova: a de que as células IPS, por si sós, chegavam para originar um ratinho inteiro, de raiz. Foi isso que os cientistas chineses conseguiram fazer agora: a partir de uma linhagem de células IPS derivada de fibroblastos de ratinho, conseguiram fazer nascer vários ratinhos, um dos quais atingiu mesmo a idade adulta.
A técnica que utilizaram, dita de "complementação tetraplóide", consiste em introduzir as células IPS num embrião cujas células não são capazes de contribuir para a formação do organismo final. Os especialistas consideram ser este o derradeiro teste da pluripotência de uma célula - ou seja, a prova provada de que ela é capaz de dar origem a todos os tecidos de um organismo, tal como uma autêntica célula estaminal embrionária.
Porém, a história não acaba aqui. "Estes resultados constituem uma importante prova de princípio", salienta Gao em comunicado, "mas seria prematuro afirmar que as células IPS em geral são funcionalmente equivalentes às CEE normais."

24.07.2009 - 11h02 Ana Gerschenfeld Publico

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